Escolha de Bendine para Petrobras frustra o mercado, dizem analistas

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Estatal trocou ‘seis por meia dúzia’, avalia mercado. Forte ligação com o governo e possível falta de independência desagradam.

A escolha de Aldemir Bendine como provável sucessor de Graça Foster no comando da Petrobras frustrou o mercado, avaliam analistas. Investidores esperavam um perfil mais próximo do mercado e menos político para promover as mudanças esperadas na estatal após as recentes denúncias de corrupção.

O analista da Futura Investimentos, Adriano Moreno, destaca que Bendine, funcionário de carreira do Banco do Brasil desde 1982, tem forte ligação com o governo, apesar de afirmar não ser filiado a partidos políticos. “Esperava-se um nome mais ligado ao mercado, alguém que sinalizasse para as mudanças esperadas”, observa o analista.

Aldemir Bendine fez carreira no BB e é conhecido como ‘Dida’

Para o economista Jason Vieira, a escolha foi rápida e surpreendeu de forma negativa. “[O nome de Bendine] não era o que o mercado esperava, nem estava entre os mais cotados para assumir a presidência da estatal. Foi uma forma de ‘tapar o buraco'”, diz.

 

Vieira destaca que a petroleira parece ter trocado “seis por meia dúzia”, em um momento em que tenta recuperar a credibilidade diante das denúncias de irregularidades  investigadas pela operação Lava Jato.

Para o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Aldemir Pires, Bendine é visto como uma continuidade, não como ruptura.  “Acho que o governo, mais uma vez, não conseguiu convencer ninguém do mercado para substituir a Graça [Foster]. Escolheram um presidente do Banco do Brasil, que já trabalha com a Dilma, que já é da confiança dela”.

Na visão de Pires, com a escolha, a presidente vai continuar mandando na empresa. “[Bendine] não vai se opor a nenhuma determinação da Dilma. Isso vai desanimar o mercado”, avalia. O mercado, no fundo, preferia a Graça na estatal, diz o especialista.

A falta de experiência de Bendine na área de petróleo e gás não chega a incomodar, segundo Pires. “Isso pesa, mas é o que pesa menos. O mercado esperava um nome para mudar, ter autonomia. Mudar no sentido de refundar a empresa, de ter atitudes de como vencer ativos quando houvesse prejuízo, por exemplo. Isso frustra muito, mais do que a falta de experiência”.

Ligação com o governo
O Bendine é uma pessoa muito identificada com a primeira gestão do governo Dilma, destacou à Reuters o sócio da Órama Investimentos Álvaro Bandeira, no Rio de Janeiro.

“O BB foi absolutamente comandado pelo governo na primeira gestão e a Petrobras precisaria de alguém mais independente, que peitasse o governo em determinadas situações e não fizesse loteamento de cargos”.

Para Bandeira, nomes que vinham circulando na mídia para a Petrobras, como o de Murilo Ferreira, presidente da Vale, e o de José Carlos Grubisich, ex-presidente da Braskem, seriam opções melhores. “Pesa por não ser alguém do setor, mas pesa mais por ser identificado com a primeira gestão de Dilma”, afirmou.

A previsão dos analistas é a de que as ações da petroleira tenham uma “queda violenta” nesta sexta-feira (6). Perto das 11h, o recuo era próximo de 6%.

(Fonte: G1, em São Paulo, autorias: Taís Laporta e Anay Cury, 06/02/2015, às 11h38)